Vamos mostrar como essa relação ocorre quando trabalhamos na defesa de cadeias livres de desmatamento
Sempre que abordamos Direitos Humanos trazemos um posicionamento fundamental em qualquer discurso sobre sustentabilidade: não existe sustentabilidade sem a defesa e, consequentemente, a promoção dos Direitos Humanos. Neste artigo, focamos na importância da gestão de cadeias sustentáveis considerando dois tópicos dentro da sustentabilidade na cadeia de fornecimento: insumos livres de desmatamento e conversão e respeito aos Direitos Humanos.
Para isto, partimos de duas premissas que desenvolvemos a seguir:
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O desmatamento, enquanto atividade, relaciona-se a um rol de outras atividades com alto risco de violação dos Direitos Humanos.
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Para solucioná-las, ambos os tópicos devem estar integrados aos procedimentos de gestão da cadeia.
Uma nova mentalidade sobre o que significa uma empresa
Defendemos uma nova mentalidade de gestão: assim como nenhuma pessoa é uma ilha, uma empresa também não é só ela, e sim uma cadeia de valor. Isso significa que a codependência é intrínseca a qualquer modelo de negócio — e pode ser predatória ou geradora de impacto positivo.
Essa visão é a base para modelos de negócios de impacto positivo, além de ser motivadora e engajadora para a transformar nossa compreensão sobre a função das empresas na e para a sociedade.
Quando um negócio se vê como parte de uma cadeia de valor, sua cultura — ou a maneira como ele opera — refletirá a mudança. Entender-se como cadeia significa ter clareza de que a gestão de um tema traz benefícios (ou não) sobre outro, e, consequentemente, para as demais empresas interligadas à sua.
Desmatamento e Direitos Humanos
O desmatamento, principalmente o ilegal, é acompanhado por outras atividades ilegais. Recentemente, repercutimos em nossas redes sociais LinkedIn e Instagram o segundo briefing sobre Direitos Humanos do projeto Forest 500. As conclusões evidenciaram que poucas empresas reconhecem a importância de prevenir violações dos Direitos Humanos junto às suas estratégias contra o desmatamento. Das 500 organizações globais, sendo 350 empresas e 150 instituições financeiras, o relatório apontou que:
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33% das empresas não tinham uma única política de Direitos Humanos;
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quando analisadas as instituições financeiras, o percentual sobe para 59%;
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125 das 150 instituições financeiras avaliadas forneceram US$ 83,6 milhões a 115 empresas sem quaisquer exigências de que apresentassem compromissos em Direitos Humanos.
Os dados mostram o quanto é necessário avançar na implementação de compromissos contundentes que integrem os Direitos Humanos na agenda de sustentabilidade de empresas e instituições financeiras, ampliando os resultados positivos e garantindo direitos universais — e vale ressaltar que, em 2022, a ONU declarou o meio ambiente limpo, saudável e sustentável como um deles.
A conexão mais óbvia entre desmatamento e Direitos Humanos está nas violações aos direitos do trabalho, como o análogo à escravidão, conflitos agrários, violência contra populações locais e defensores dos Direitos Humanos e a incapacidade de garantir o Consentimento Livre, Prévio e Informado (CLPI) dos povos indígenas e das comunidades locais.
No entanto, existem também aquelas ligadas às consequências dos passivos ambientais e demais impactos de um negócio que prejudicam a subsistência das comunidades. Como exemplo, a poluição do solo e/ou da água e do ar, desmatamento que impacte a biodiversidade e demais recursos florestais dos quais uma comunidade necessita para sobreviver, dentre outros. Um último risco de violação diz respeito à violência sofrida pelos ativistas, ambientalistas e demais populações locais que lutam pelos seus direitos. Ao final desse artigo, você encontra alguns links sobre estudos de crimes ambientais, caso queira se aprofundar na leitura.
A União Europeia (UE) está adotando uma nova e importante lei para exigir que empresas europeias garantam que suas importações e exportações sejam livres de desmatamento e defendam os Direitos Humanos — o Regulamento da UE sobre Produtos Livres de Desmatamento (EUDR, na sigla em inglês). Ele estabelece os requisitos legais no que diz respeito à perda de biodiversidade e abusos desses direitos ao longo de suas cadeias produtivas, e é neste ponto que dialoga com empresas brasileiras, pois ele se refere às cadeias internacionais.
Caminhos para a integração nos procedimentos de gestão da cadeia
Dentre os caminhos possíveis para a criação de uma governança que privilegie mecanismos de gestão da cadeia de valor anti-desmatamento e violação de Direitos Humanos, listamos algumas orientações com base nas diretrizes da Accountability Framework Initiative. Vale ressaltar que a priorização de caminhos deve levar em conta o perfil de negócio e das cadeias de valor no qual está inserido, o que significa que é fundamental contar com olhares especialistas para essa orientação.
Vamos começar pelos compromissos da empresa:
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Devem especificar que operará de acordo com os instrumentos internacionais de Direitos Humanos, o que inclui evitar causar ou contribuir para impactos adversos em propriedades reconhecidas internacionalmente.
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Também, como irá prevenir ou mitigar esses impactos ligados às suas operações, produtos ou serviços.
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Os compromissos devem respeitar os direitos dos povos indígenas e das comunidades locais, caso aplicável, e devem especificar que a empresa operará de acordo com a Declaração da ONU sobre o Direitos dos Povos Indígenas (UNDRIP) e respeito aos direitos formais e consuetudinários dos PI/CL a terras, territórios e recursos no contexto de qualquer atividade da empresa, bem como garantir o CLPI.
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As políticas sobre o respeito pelos direitos dos trabalhadores devem especificar o compromisso da empresa em não permitir discriminação, trabalho infantil, nenhum trabalho forçado ou compulsório, liberdade de associação e negociação coletiva, nenhuma prática abusiva ou procedimentos disciplinares indevidos, horas de trabalho legais e decentes, locais de trabalho seguros e saudáveis, salários dignos e benefícios justos.
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Ainda, disposições para o envolvimento ativo das partes interessadas, mecanismos eficazes de reclamação, remediação onde a empresa causou ou contribuiu para impactos nos Direitos Humanos, proteção dos defensores ambientais e dos direitos humanos.
O mais importante é que, ao agir sob esta orientação estratégica, uma empresa impacta positivamente toda a sua cadeia de valor, motivando mais negócios a agirem, em um movimento que traz benefícios para toda a sociedade. Vamos conversar sobre como podemos priorizar a ação para mudança no seu negócio, fortalecendo sua gestão e potencializando-o para o alcance de melhores resultados.
Para se aprofundar em mais estudos sobre crimes ambientais: