Rastreabilidade na Prática: Um Método Concreto e Escalável para Qualquer Cadeia de Suprimentos

Por Joseph Sellwood
11
julho, 2025

A rastreabilidade é a base da transparência em cadeias de suprimento — e transparência é o que permite que empresas assumam, de forma confiável, compromissos com práticas éticas, responsáveis e sustentáveis. Sem visibilidade sobre a origem real dos materiais e insumos, não há como assegurar conformidade, reduzir riscos ou promover mudanças estruturais.

Desde 2019, a REVER desenvolve e aplica uma metodologia prática de rastreabilidade em cadeias complexas, com foco em dados verificáveis, interoperabilidade e impacto real. Essa abordagem tem sido implementada com sucesso em diversos setores — incluindo soja, carne bovina, couro, algodão, têxteis e embalagens — sempre com o objetivo de fortalecer cadeias de valor mais éticas e sustentáveis. Exemplos desse trabalho foram apresentados na Climate Week NYC da Regen.House de 2024 e documentados no estudo de caso da BSR sobre cadeias sustentáveis com rastreabilidade no Brasil.

A metodologia tem sido refinada em parceria com organizações como GS1 US, Wholechain e IDH. Em 2022, a Rever, em colaboração com a GS1 US e Wholechain, desenvolveram o primeiro Framework De Dados Para Rastreabilidade Eletrônica Interoperável De Cadeias De Gado Livre De Desmatamento No Brasil. Esse trabalho pioneiro estabeleceu as bases para um padrão global mais amplo.

No dia 19 de março de 2025, a iniciativa Better Food Future, junto com parceiros estratégicos como a REVER, WWF, Wholechain e IFT, lançou o Global Traceability Framework for Beef & Leather, que hoje serve como modelo de interoperabilidade baseado no padrão GS1 EPCIS.

A experiência acumulada desde 2019 e aplicada no desenvolvimento dessas iniciativas permite que a REVER ofereça um caminho prático e escalável para empresas de qualquer setor que queiram sair do mapeamento genérico e alcançar a rastreabilidade real, o que chamamos de “Além da Origem”. Pilotos iniciais já estão em andamento no Brasil, Estados Unidos e na Austrália, com marcas pioneiras testando a implementação prática do Além da Origem, que descrevemos abaixo.

Da visão geral ao dado verificável: identificando os parceiros estratégicos

Para muitas empresas, o ponto de partida na jornada de rastreabilidade é o mapeamento da cadeia por meio de questionários enviados a fornecedores. Essa etapa pode oferecer uma visão inicial útil sobre os principais elos e ajudar a identificar áreas de maior atenção. No entanto, por si só, ela não é suficiente para garantir rastreabilidade real.

Esses mapeamentos costumam se basear em informações auto-declaradas, que nem sempre vêm acompanhadas de comprovações ou sistemas formais de rastreabilidade. Isso pode gerar lacunas importantes — por exemplo, ao indicar regiões de origem sem evidências documentadas, ou ao deixar brechas para a entrada de materiais não conformes ao longo da cadeia.

Outro desafio comum é a falta de padronização: fornecedores recebem múltiplas versões de questionários, com formatos e exigências diferentes, o que dificulta o preenchimento e compromete a consistência dos dados coletados. Isso pode levar a um grande volume de informações, mas com utilidade prática limitada.

Um processo de mapeamento de fornecedores tem seu valor como primeiro passo, mas propõe uma evolução rápida para um modelo mais estruturado e orientado por dados rastreáveis. O foco passa a ser um grupo enxuto de parceiros estratégicos, que operam volumes relevantes e estão dispostos a compartilhar informações vinculadas a lotes reais de produto. Essa transição torna possível alcançar um nível mais alto de precisão, confiabilidade e transparência na cadeia de suprimentos.

Defina os Requisitos de dados padronizados de rastreabilidade

A rastreabilidade prática exige dados claros, estruturados e comparáveis. Para isso, é essencial adotar padrões globais, como o GS1 EPCIS, que permitem o intercâmbio de dados entre sistemas de diferentes empresas.

O EPCIS (Electronic Product Code Information Services) é um padrão global da GS1 que define como capturar e compartilhar dados de eventos ao longo da cadeia de suprimentos. Ele permite registrar o quê, quando, onde e por quê algo aconteceu com um produto — de forma estruturada, interoperável e rastreável entre diferentes sistemas e empresas.

O uso de modelos e formatos padronizados permite que diferentes fornecedores entreguem informações consistentes, prontas para análise, integração e auditoria. Nos pilotos em desenvolvimento, utilizamos templates formais de solicitação de dados, que indicam de forma clara:

  • quais campos devem ser preenchidos (ex: lote, origem, volume),
  • quais formatos são aceitos (ex: datas padronizadas, códigos de localização),
  • e quais os prazos de envio ou atualização.

Esses templates aumentam a clareza, reduzem erros e viabilizam a escalabilidade da coleta de dados, mesmo em cadeias longas ou fragmentadas. Ao alinhar expectativas desde o início, empresas e fornecedores conseguem construir uma base sólida para rastreabilidade digital, sem depender de trocas manuais ou interpretações ambíguas.

Construa junto com os fornecedores: identifique lacunas e apoie melhorias

Nem todo fornecedor será capaz de entregar todos os dados de rastreabilidade desde o início — e isso é esperado. A construção de uma cadeia mais transparente é uma jornada que exige colaboração, clareza e apoio ao longo do caminho.

Com os dados iniciais em mãos, o próximo passo é analisar o que já está disponível, o que ainda falta e onde existem falhas ou inconsistências. Esse processo de análise de lacunas deve ser feito de forma conjunta, com foco em soluções práticas e realistas.

Atuamos como facilitadora desse diálogo, apoiando marcas na utilização de checklists, planos de ação e ferramentas de feedback estruturado para orientar as conversas com os fornecedores. O objetivo é transformar os desafios identificados em oportunidades de melhoria, com cronogramas acordados em conjunto e foco no progresso contínuo — sempre fortalecendo a parceria, em vez de impor exigências unilaterais.

Teste antes de escalar: desenvolva um protótipo digital funcional

Um sistema de rastreabilidade não precisa estar 100% completo para começar — mas precisa ser digital e funcional para ser testado, ajustado e, futuramente, escalado.

Empresas que tentam gerenciar rastreabilidade com planilhas e e-mails rapidamente se deparam com limitações: coleta demorada, risco de erro humano, dados desconectados e pouca capacidade de análise ou integração com sistemas internos. Por isso, nos apoiamos no nosso parceiro Wholechain para implementar um protótipo digital prático, construído com base em dados reais já disponíveis (mesmo que parciais), complementados por suposições validadas e registros históricos.

Esse modelo funciona como uma versão inicial do sistema operacional de rastreabilidade da empresa. Ele permite realizar testes com um grupo-piloto de fornecedores, validar processos, engajar times internos e gerar aprendizados concretos — tudo com um custo e escopo controlados.

Foi exatamente essa abordagem que guiou um dos nossos projetos mais emblemáticos: em parceria com a Tapestry e Wholechain, foi desenvolvido um protótipo de rastreabilidade para couro bovino, apresentado no GS1 Connect Conference – e que atualmente está em fase de escalonamento para novas regiões e fornecedores. O projeto demonstrou, de forma concreta, como dados de rastreabilidade podem ser capturados, padronizados e integrados aos sistemas da empresa.

Incorpore a rastreabilidade nas regras de compra

Para que a rastreabilidade se torne parte da operação — e não apenas um projeto paralelo — é essencial integrá-la aos processos de compras. Assim como já se exige qualidade, certificações ou critérios ESG, os requisitos de rastreabilidade também precisam estar presentes nas políticas, contratos e manuais de fornecimento.

Junto com nossos parceiros, criamos uma estrutura clara de classificação de fornecedores e materiais, com base em critérios objetivos de rastreabilidade e sustentabilidade. Essa estrutura pode ser organizada em três níveis:

  • Preferenciais – fornecedores e materiais que atendem a padrões elevados de rastreabilidade e sustentabilidade;
  • Aceitáveis – atendem aos requisitos mínimos definidos pela empresa;
  • Não conformes – não elegíveis para fornecimento até que implementem melhorias.

Essas categorias ajudam as empresas a tomar decisões de compra mais consistentes, alinhadas com suas metas de impacto e compliance. Quando incorporadas nas práticas comerciais, elas garantem que a rastreabilidade deixe de ser uma exigência isolada e passe a ser uma condição operacional integrada à cadeia de valor.

Integre, automatize e valide: rastreabilidade operando em tempo real

À medida que a rastreabilidade evolui de piloto para operação em escala, dois elementos tornam-se indispensáveis: integração sistêmica e verificação automatizada. Sem eles, os dados não fluem, os riscos se acumulam e a confiabilidade se fragiliza.

Cadeias rastreáveis em larga escala exigem que os sistemas estejam conectados — não apenas internamente, mas também entre diferentes elos da cadeia. A REVER apoia a integração de plataformas de rastreabilidade com sistemas corporativos (como ERP, compras e logística) por meio de APIs e soluções em nuvem. Esse ecossistema conectado permite automatizar a entrada e análise de dados, reduzindo erros e acelerando a tomada de decisão.

Além disso, a verificação contínua dos dados é o que transforma rastreabilidade em confiança. Em vez de depender exclusivamente de auditorias pontuais ou certificações estáticas, sistemas digitais podem realizar validações automatizadas com base em registros reais — como dados de blockchain, documentos de compra, localizações e volumes.

Com esse modelo, torna-se possível:

  • cruzar informações de diferentes fontes em tempo real,
  • identificar inconsistências de volume, tempo ou localização,
  • gerar alertas proativos e relatórios auditáveis para validação externa.

Essa combinação entre integração e verificação contínua consolida a rastreabilidade como um sistema vivo — que conecta origem, dados e decisões de forma confiável, transparente e escalável.

Conclusão — Rastreabilidade É Estratégia, Não Relatório

A metodologia Além da Origem, desenvolvida pela REVER a partir de experiências práticas desde 2019, mostra que é possível sair do mapeamento genérico e construir cadeias verdadeiramente rastreáveis: digitais, interoperáveis, confiáveis e escaláveis.

Ao combinar foco em parceiros estratégicos, uso de dados padronizados, integração sistêmica e verificação automatizada, qualquer cadeia — de soja a algodão, de couro a embalagens — pode ser rastreada de forma segura, transparente e com impacto real.

O futuro da rastreabilidade não é só técnico: é estratégico, operacional e colaborativo. E ele já começou.

Se sua empresa está pronta para transformar rastreabilidade em transparência real e impacto concreto, estamos prontos para caminhar junto. A metodologia Além da Origem pode ser o ponto de virada entre saber e agir — e a REVER pode ajudar você a construir esse caminho.

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